8
febrero 2002

Helena
 
de Sousa
 
 Freitas


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TEMPESTADE INTERIOR

 

Sinto-me só e desesperada
como se a minha existência se resumisse a um negro e gigantesco nó,
que se aperta cada vez mais em torno das horas e das noites.
Sinto-me vaga e cansada
como se já te tivesse perdido,
como se já não me conhecesse(s) ou tivesse ficado sem memória(s).
Sinto-me exausta e sonâmbula
como quem se entrega ao tempo sem saber se vai chegar,
como quem está a mais em todos os lugares.
Sinto-me ténue e monótona
como uma velha (in)cômoda,
que resiste, desconfiada e severa, à lenta passagem dos anos.
Sinto-me rebelde e inalcançável
como se me olhassem de soslaio e eu me risse, num riso infinito,
de mim,
de ti
e deste mundo
de inevitáveis desencontros.

 

© Helena de Sousa Freitas

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O CRAVO

 

A 25 de Abril de 1974
festejou-se a liberdade e o sonho
com hinos nos lábios,
com votos renovados de esperança.
O País aberto à verdade
e os braços estendidos aos Heróis,
às promessas e à confiança.
Foi dia de luta, de lágrimas,
de adeus às armas, de acolhimento,
de um sorriso para uma certeza.
As prisões e as torturas
queriam-se longe da lembrança.
Agora reforçavam-se os desejos
de uma Pátria nova Renascida,
de uma Pátria nova Portuguesa!

Porém,
o tempo passou,
e um cravo rubro, solitário,
ficou na estrada tombado...
As desilusões esmagaram-no
e o Homem Novo ignorou-o,
tomando-o por vinho entornado.

E hoje
é recordado com brindes e discursos de glória
esse dia que ninguém esqueceu.
Mas há novos pés, no silêncio, a pisarem
aquele cravo de sangue exaltado e vitória
que no auge da festa alguém perdeu.

No futuro,
uma criança,
brincando na areia da estrada,
encontrará o cravo
que à Revolução foi ceifado.
Ao romper de uma aurora,
em vigor, plantá-lo-á de novo,
para que a fé não se apague.
E crente nas razões do povo,
na sua justiça e na sua dor,
estará a plantar, sem o saber,
a mais doce força da Saudade,
o mais intenso poema de Amor


© Helena de Sousa Freitas

 

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DEBAIXO DO VÉU

 

As noites contigo são insones e dormentes,
Não descansam.
Nem o corpo doentio, exaltado de suspiros.
E de pensamentos puros e ardentes.

Há punhais que me rasgam as roupas e o ventre,
Nas noites contigo,
Há um lume que me prende à cama e me tortura.
Que me inspira e devora a alma.

Ninguém consegue deter o temporal que desaba,
Que é vulcão... e dilúvio... e tornado,
Nas noites contigo,
Teu corpo é seda com que teço a vida.

Meus lábios te descobrem e desenham
Em movimentos inquietos e doces.
O coração está cadente, suspenso dos céus,
Nas noites contigo.


© Helena de Sousa Freitas

 

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PALAVRA

 

O que é uma palavra,
quando te digo tantas
em todos os instantes?

O que é uma palavra,
quando o silêncio se instala
e a sua ausência se nota?

O que é uma palavra?
Quando é de Amor?

O que é uma palavra?
É quando a Sonhamos?


© Helena de Sousa Freitas

 

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MORREM AS ÁRVORES DE PÉ?

 

Uma árvore cai!..
... não se (lhe) ouve um som
na Natureza
a morte é sempre assistida do silêncio.
As outras árvores choram...
e o seu pranto é mais pungente
que a dor do tronco magoado,
a descer lentamente por entre a vegetação,
até esmagar o solo.


© Helena de Sousa Freitas

 

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